06 janeiro 2023

Forceps

Folheando "Forceps" de R. Paião Oliveira, instintivamente somos remetidos para a dimensão harmoniosa e infalível dos manuais de instruções de montagem da IKEA, apresentados em linguagem Lego, com cores lisas e tons tranquilizadores.
Apesar do aparente esquematismo inicial, vislumbra-se uma leve cadência em lenta progressão, uma bem ensaiada coreografia mecânica e precisa a acontecer diante dos nossos olhos. Em suave dinâmica Minecraft, peça por peça, um procedimento após outro, e eis que surge um mundo novo - camada em cima de camada, cada vez mais complexo, totemizado, inexpugnável e arrogantemente vertical.
De repente, algo surge ameaçador no horizonte...objectos voadores, que se dirigem imparáveis contra as duas torres siamesas. O rombo na estrutura é notório, mas a destruição não opera os resultados esperados. Os elementos primordiais reagem e de forma orgânica e simbiótica, com sequências a acontecerem em cadeia, por reprodução ou por simetria, movidos por uma febril força criadora que se expande galopante, acumulando cada vez mais elementos.
O novo novo mundo aí está refeito, mais complexo e simultaneamente orgânico, uma emulação dos dispositivos tridimensionais  pixelizados, esféricos e novamente perfeitos.
Eis uma mulher, o ser feminino - o principio e o fim de tudo, uma esperança que se renova. Afinal, parece que nem tudo estará irremediavelmente perdido... 
Forceps, Outubro de 2022, 36 págs, impresso a cores, 18x25cm. Edição: Chili Com Carne [MdC #37].

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