26 junho 2025

Shipwrecked

Shipwrecked #1
Paralelamente ao seu labor na editora Opuntia Books, André Lemos lançou, entre finais de 2024 e início de 2025, através da chancela pessoal AL, um conjunto de pequenos opúsculos que têm em comum a apropriação de imagens preexistentes, sejam elas impressas em antigas revistas ou imagens de uso livre disponíveis na internet.
Dentre as novas publicações, registam-se dois volumes com o título Shipwrecked, compilando imagens resultantes de pesquisas na internet utilizando a palavra "shipwreck", que depois André Lemos seleccionou e editou.
São bastante surpreendentes as representações que existem sobre a temática dos naufrágios. O mar sempre esteve muito presente na iconografia, mas assumiu maior evidência no período romântico com representações de episódios com grande encenação e dramatismo, cujo expoente máximo será a obra "A Jangada de A Medusa" da autoria do pintor francês Theodore Géricault.
Os naufrágios fazem parte da memória e do imaginário colectivo, com histórias de grandes desastres, pirataria e canibalismo, o Titanic, o submarino Kursk e mais recentemente as inúmeras embarcações que atravessam o Mediterrâneo sobrelotadas com migrantes africanos.
As imagens seleccionadas por Lemos alternam entre cascos de navios já afundados, cenas representando o momento do naufrágio e a busca pela salvação. Há cenas inquietantes e emotivas, retratando a fragilidade da condição humana, o sofrimento e a esperança. Destaque para a reprodução da obra "Naufrágio de um Cargueiro" de William Turner, um momento exaltante de demonstração do poder esmagador da natureza e o dramatismo da insignificância do elemento humano.
Na capa, está o obelisco em memória das vitimas do naufrágio do navio Bristol em 1836, perto de Nova Iorque.
Shipwrecked #1, Janeiro de 2025, 12 págs, impressão laser a cores, 10x14,3cm. Edição: AL [4].

Shipwrecked #2
Na capa surge uma imagem publicitária do século XIX criada para uma marca de cigarros, representando o corsário Bartolomeu Português, autor do primeiro "Código dos Piratas".
Neste segundo tomo, os naufrágios estão representados também pela sua vertente técnica e histórico-arqueológica com esquematizações gráficas dos destroços, remetendo-nos para a exploração científica, o turismo subaquático e para os caçadores de tesouros no fundo dos mares.
As representações imagéticas de naufrágios oferecem aos seus receptores um largo espectro interpretativo, evidenciando o carácter mágico das imagens, fornecendo um código visual que traduz eventos em situações, em cenas que medeiam o acontecimento catastrófico e a ideia que formamos sobre ele.
Existem diversas experiências noutros registos não visuais que procuram representar a tragédia do naufrágio, como as obras musicais "The Sinking of Titanic" do compositor Gavin Bryars ou "The Kursk" de Matt Elliott. 
As representações sonoras, visuais, monumentais, etc., não se limitam apenas a eternalizar as grandes tormentas, os desastres naturais, os efeitos da guerra ou de acidentes, antes constituindo registos de mediação que nos fazem vivenciar acontecimentos traumáticos marcantes em função das suas representações.
 
Shipwrecked #2, Janeiro de 2025, 12 págs, impressão laser a cores, 10x14,3cm. Edição: AL [5].

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