23 dezembro 2023

Memória da Crise

O espanhol Daniel Casal realizou um estágio na Turbina Associação Cultural entre Janeiro e Junho de 2013. Nesse período, sentiam-se intensamente os efeitos da crise da dívida soberana em alguns países da zona euro, com especial na Grécia, Espanha e Portugal.
Em Memória da Crise, cinco argumentistas / escritores propõem textos para Daniel Casal desenhar. No blogue Uma Bedeteca Anónima escreveu-se: "Apesar dos textos dispararem para vários lados, transformadas em BDs lembram os episódios slice-of-life de Miguelanxo Prado sem o erotismo bacoco de Tangências nem o exagero do Quotidiano Delirante. Algo no meio se possível. Talvez seja pelos diálogos encenados de um mundo que já não se ouve a si mesmo, desumanizando-se de forma mundana e o ritmo narrativo esparso que a comparação surja. Domínio técnico não falta!
Graficamente é muito próximo à escola de desenho do Porto, o que poderia soar a uma pretensão qualquer se não existisse mesmo o Clube de Desenho!  A influência sente-se a milhas, um bocado de Marco Mendes, um coche de Nuno Sousa e uns pózinhos de Carlos Pinheiro."
O primeiro texto "Super Desempregado" de Manuel Jorge Marmelo, apresenta uma delirante história de pais natais desempregados e sem grandes perspectivas de empregabilidade, o percurso pelo Centro de Emprego, a mendicidade interrompida pelo sonho de transformar-se num super-herói que iria tirar aos ricos para dar aos pobres. Ao despertar do torpor, novamente a realidade nua e crua da queda na sarjeta. 
Elisa Santos apresenta "Twice Upon a Time" com a crise a espalhar-se transversalmente a diversas camadas da sociedade, afectando mesmo aqueles mais insuspeitos.
"Consulta" de Ricardo Alves é um mergulho nos efeitos e traumas da crise, com um ministro numa sessão de psicanálise.
"A Má da Fita" de Margarida Mesquita decorre durante uma consulta médica e entre a medição da tensão arterial, a médica e a paciente vão conversando sobre incidências da vida.
Destaque especial para "Papel" de David Pontes focando os dramas individuais e familiares provocados pela crise: - o desemprego, a dificuldade de sobreviver, a alternativa da emigração, a separação familiar, a solidão. Uma história paradigmática para não esquecermos os tempos negros que vivemos há uns anos.
Memória da Crise, Maio de 2017, 44 págs, risografia a preto & branco, 16,3x21,8cm. Edição: Turbina Associação Cultural. Porto.

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