02 abril 2024

As Bruxas de Blergh

Confesso que tive algumas dúvidas em publicar este fanzine aqui, uma vez que o conteúdo é maioritariamente relacionado com o Brasil. A edição original lançada em 2017, também é originária desse país. No entanto, uma vez que houve uma edição "nacional" da responsabilidade da Sapata Press, acabei por decidir fazer esta publicação.
As Bruxas de Blergh é um fanzine de activismo feminista, no velho estilo corta e cola, com sentido de humor e algumas páginas bem conseguidas. Os pontos negativos são a fraca reprodução de certos grafismos e a excessiva pixelização dos textos, que em certos casos, os torna ilegíveis. Por vezes, o feminismo descamba para o lesbianismo militante e aí torna-se desinteressante.
Sara Figueiredo Costa, na revista Blimunda n.º 72, de Maio de 2018, escreveu o seguinte sobre esta publicação: "Poucos meses depois do impeachment que afastou Dilma Rousseff da presidência do Brasil, colocando Michel Temer no seu lugar – numa operação política que muitos cidadãos não hesitaram em chamar de golpe – , um colectivo de artistas, professoras e investigadoras reunia-se em Belo Horizonte. A vontade comum era a de encontrar modos de lutar contra a desigualdade de género, na política como na arte, e o momento político brasileiro parecia exigir uma atitude nesse sentido. As Bruxas de Blergh nascem, assim, em Setembro de 2017, no Bar Olympia, e dessa primeira reunião brotam muitas ideias que serão discutidas entre todas e levadas à prática num futuro próximo. Participantes activas nas manifestações contra Temer, bem como noutros movimentos sociais e culturais que vão marcando o presente no Brasil sem que os meios de comunicação social mais tradicionais vão dando notícia disso deste lado do Atlântico, as Bruxas de Blergh chegaram, ainda assim, a Portugal. A responsável foi a editora Sapata Press, projecto criado em Portugal por Cecília Silveira com o objectivo de editar trabalhos de mulheres, pessoas transsexuais e não-binárias, que em Março passado publicou o fanzine As Bruxas de Blergh, colocando o colectivo brasileiro em destaque na última edição da Raia, feira de edição independente e dando aos leitores portugueses a oportunidade de o conhecerem. E logo nas primeiras páginas, as decisões programáticas das Bruxas de Blergh afirmam-se sem manifesto nem hierarquia, numa dupla prancha que inclui a representação das suas integrantes (com cabeças de animais) e a expressão dos seus desejos: «Vamos fazer tudo o que a gente quiser»; «cada desejo»; «provocar medo, espanto, ser bem bruxa»; «o que cada uma quiser fazer, nós vamos fazer». A leitura do fanzine confirma esta vontade de total liberdade. As propostas que vão surgindo nas reuniões do colectivo incluem a colagem de imagens de vulvas pela cidade de Belo Horizonte, a apologia do prazer feminino, a discussão aberta sobre sexualidade, auto-determinação e desejo ou, naquela que talvez seja a mais plástica das intervenções do grupo, a incorporação dos gestos e das práticas do vudu na luta política, criando bonecos com o rosto de políticos ou outras personalidades que podem ser usados (inclusive, por encomenda) para exorcizar as acções destas pessoas e a sua interferência na vida quotidiana dos cidadãos."
As Bruxas de Blergh #1, Março de 2018, 40 págs., fotocópia a preto & branco, 14,9x21cm. Tiragem: 50 exemplares. Edição: Sapata Press. Lisboa.

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