22 agosto 2023

Pentângulo

Pentângulo é uma publicação anual resultante de uma parceria entre a Escola Ar.Co e a Associação Chili Com Carne, visando publicar autores que frequentaram o curso de Ilustração e Banda Desenhada da Ar.Co, envolvendo a participação de alunos, ex-alunos e professores.
A capa do primeiro número é da autoria de Daniel Lima, a coordenação editorial é de Jorge Nesbitt e de Marcos Farrajota e o design de Joana Pires.
Participam os seguintes autores: Amanda Baeza, Anna Bouza da Costa, Cecília Silveira, Carolina Moreira, Dileydi Florez, Francisco Sousa Lobo, Gonçalo Duarte, Igor Baptista, João Carola, João Silva, Luana Saldanha, Martina Manyà, Mathieu Fleury, Pedro Moura (como argumentista e também com um ensaio intitulado Plágio!), Rafael Santos, Rodolfo Mariano, Sara Boiça, Simão Simões, Stephane Galtier, colectivo Triciclo e Vasco Ruivo.
O tema de algumas das bandas desenhadas iniciais foi o trabalho de mulheres artistas vanguardistas do início do século XX, sobretudo de nacionalidade russa.
No jornal A Batalha, Russo apresentou a seguinte resenha sobre o primeiro Pentângulo:
"A malta que faz banda desenhada é claramente o lumpenproletariado da literatura portuguesa: não têm consciência de classe e pouco contribuem para fazer mexer a economia (uns são académicos, outros são funcionários públicos; uns recebem o certificado de artista oficial do regime, outros andam à procura de chapas de zinco para o seu projecto musical pós-industrial; uns fazem zines e alimentam-se a médias no Banco, outros banqueteiam-se alarvemente à quinta-feira no Cais do Sodré), prescindiram do seu potencial revolucionário para transformar a sociedade (preferem ir a mais uma feira de edições independentes do que picar o ponto em mais uma manif pela habitação), são indisciplinados (há dois anos que anda a ser prometido um livro de bd sobre a anarqueirada do 18 de Janeiro e nem vê-lo) e, claro, são desprezados por marxistas.
Talvez por ter sido guetificada e marginalizada pelo mercado editorial em Portugal, forçada a pedinchar por um cantinho nas livrarias e nas feiras do livro generalistas, a banda desenhada é o género literário mais vivo cá no burgo. Alguns leitores atentos poderão dizer: «Companheiro Russo, que tens a dizer sobre as ilustrações que têm saído na _______ (completar com o título de qualquer revista medíocre de poesia)? Ou aquela banda desenhada que saiu no aborrecido, porém vanguardista, Le Monde Diplomatique versão tuga? E estás a esquecer-te das participações nos jornais de grande tiragem?» Compas, tudo isso são adornos e adereços que servem para enriquecer a palavra pobre, arrastando a banda desenhada para uma condição subserviente, retirando-lhe a sua legitimidade enquanto género literário autónomo. Como se os mortos-vivos quisessem comer a carne aos vivos, arrastando-os para a sua condição cadavérica.
A edição deste primeiro Pentângulo mostra que a vitalidade de um género literário passa pela sua renovação, por dar espaço à publicação da malta nova. Mas não se trata de editar os novos só porque são novos, mas principalmente porque têm um olhar sobre o mundo que é deste tempo. Isso percebe-se logo pelas bds do João Carola sobre a desconstrução estética do supermatismo e construtivismo russos ou as do Simão Simões e da Amanda Baeza que exploram a imagética do informe. Desta antologia saiu também o desdobrável «faça você mesmo o seu ditador», do Mathieu Fleury (...) Ah, e ainda levam com um bónus em forma de bd do Francisco Sousa Lobo! Quem diria que seriam os déclassés a abanar a chafarica provinciana dos literatos?"
Pentângulo #1, Fevereiro de 2018, 118 págs, impresso a 2 cores; capa em quadricromia, 16,3x22,7cm. Edição: Ar.Co e Chili Com Carne.

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