25 novembro 2025

Your Mouth is a Guillotine

Your Mouth is a Guillotine #1
Fanzine feminista dinamizado por Patrícia Guimarães e Joana Tomé. O subtítulo deste número inaugural é “Fragmento”, e o que observamos são efectivamente fragmentos que pretendem formar uma tentativa de discurso de activismo feminista e de resistência aos cânones habituais.
A questão fragmentária está também muito presente na problematização de "ver a mulher enquanto partes de um corpo".
A perspectiva feminista é operacionalizada para destrinçar as diferenças entre as duas pinturas de "Judite Decapitando Holofernes", uma da autoria de Artemisia Gentileschi e outra pintada por Caravaggio.
O grafismo de Your Mouth is a Guillotine é bastante interessante, mas o conteúdo muito fragmentário e desarticulado, subtrai-lhe alguma força e consistência.
Your Mouth is a Guillotine #1, Julho de 2013, 20 págs, fotocópia a preto; capa em cartolina de várias cores, 13,9x19,8cm. Tiragem: 40 exemplares. Lisboa.

Your Mouth is a Guillotine #2
O segundo Your Mouth is a Guillotine tem como tema central "A Ferida" e apresenta desenhos de Jeanne Nin retratando mulheres artistas como Sylvia Plath, Frida Kahlo, Simone de Beauvoir e um tutorial desenhado e escrito em inglês sobre as Pussy Riot, que ocupa as páginas centrais.
Catarina Domingues contribui com o poema "Dedicado à minha mãe" esparso e tocante. "Saigão" é um texto poético de Marta Navarro, imerso nos arrozais sob a vibração prolongada do gongo. 
A "Fábula do Leão e da Raposa" inspirada na obra Pantagruel de Rabelais, é adaptada em banda desenhada por Patrícia Guimarães. A mesma autora apresenta ainda "Baubo", uma bd misteriosa tocando temas como a menstruação, a masturbação e o auto-conhecimento.
Nota-se uma evolução significativa relativamente ao número anterior, melhor resolvido na afirmação orgulhosa de uma mensagem feminista.
Your Mouth is a Guillotine #2, Fevereiro de 2014 (2.ª edição), 24 págs, fotocópia a preto; capa em cartolina verde, 13,1x19,8cm. Tiragem: 10 exemplares. Lisboa.

24 novembro 2025

Puro Capricho

Puro Capricho é um exercício de encenação sem acompanhamento de qualquer tipo de texto ou diálogo, interpretado por quatro jovens mulheres: Raquel Mendes, Inês Leiria, Soraya Vasconcelos e Vanessa Santos.
Apresentando-se sob a forma de fotonovela retratando o processo de caracterização e maquilhagem, culminando esse acto de embelezamento feminino num ritual frio e clínico de amputação. Fotografia por Soraya Vasconcelos e João Fitas.
Marcos Farrajota referiu o seguinte no blogue da Chili Com Carne: "não é muito vulgar aparecerem "fotonovelas" em Portugal. Assim de repente só me lembro do Puro Capricho (2003) do colectivo In Útil (com colaboração de Miguel Rocha) ou as da Ondina Pires com João Pedro Gralha mostradas algumas vezes em exposições e uma vez ou outra na revista Umbigo. Ainda assim, sobre estes dois exemplos, o Puro Capricho era um objecto artístico (uma brochura que acompanhava uma exposição numa galeria) e que fugia aos temas pueris da Fotonovelas (tratava-se quase de um "gore" sobre as questões da Beleza) e as "bds" de Ondina e João eram realizadas com bonecos / brinquedos.
(Na paginação), o Puro Capricho era de referência dado os conhecimentos de Miguel Rocha em bd - para que não se pareça apenas uma brincadeirinha de amigos."

Puro Capricho, 2003, 28 págs., offset a cores, 15x21cm. Tiragem: 300 exemplares. Edição: In Útil. Lisboa.

22 novembro 2025

Casal de Santa Luzia

Casal de Santa Luzia foi desenvolvido por Matilde Basto no âmbito de um estágio da London College of Communication realizado entre Março e Maio 2022 na Chili Com Carne.
A história assume contornos misteriosos nas margens da grande cidade, onde os baldios são colonizados por bandos de gatos vadios. Os sinais. Uma ameaça paira no ar, sente-se que algo está para acontecer. Instala-se uma rotina claustrofóbica de fim dos tempos. Um mundo pós-humano, zombificado, onde os gatos são a espécie sobrevivente, assumindo-se como os novos senhores da zona à superfície.
O desenho também é algo surpreendente, oscilando entre o negativo arranhado dos gatos e dos gradeamentos e o traço baço e esborratado da tecnologia vigilante e controladora.
A solidão, os espaços abandonados, os gradeamentos que confinam e delimitam uma cidade negócio, privatizada e artificial. Os sinais. O puzzle que se vai compondo lenta e inexoravelmente.
Sara Figueiredo Costa escreveu na revista Blimunda que "o baldio dos gatos é um universo em si, um oráculo, uma “boca cósmica”, como se lê numa das vinhetas. É apenas um baldio ao lado da casa de quem narra, mas vai-se agigantando como algo mais. É na leitura dos sinais que essa concretização ganha o corpo possível, com a mudança a revelar-se na cidade e nas vidas de quem a habita. E é nesse momento que Casal de Santa Luzia se revela como eco da pólis, onde facilmente reconhecemos uma Lisboa presa nas malhas da especulação imobiliária, esse fenómeno que as secções de economia dos jornais tratam como algo intangível, explicando subidas e descidas de preços, mas que é, na verdade, uma espada real pendendo sobre as cabeças de quem aqui mora."
Casal de Santa Luzia, Maio de 2022, 52 págs., risografia a uma cor; capa a duas cores, 14,5x20cm. Edição: Chili Com Carne [MdC #34].

20 novembro 2025

Epitáfio

Epitáfio #5
Fanzine dirigido por Nuno A. N. Correia e por José Rui Fernandes, versando essencialmente sobre banda desenhada e música. Neste número, são apresentadas inúmeras resenhas a publicações lançadas no mercado nacional, mas também sobre alguns títulos estrangeiros. Nas críticas, é utilizado um sistema de classificação de claps! (quanto mais claps! melhor) e buuhs!!.
A primeira banda desenhada é "Estou Farto de Estar Deitado" com argumento de Tiago Castro e desenho de Pedro Castro.
Segue-se uma secção de divulgação e crítica, abordando temas como Angoulême 92, a Playboy e a BD, as Edições ASA, Prince em BD, as sobras brasileiras, a Meribérica, LX Comics, etc.
Nuno A. N. Correia apresenta o álbum dissecado música a música, incidindo sobre o clássico "Out of Time" dos R.E.M.
"Balada de Uma Manhã de Inverno" é uma bd realizada por Ricardo Cabrita entre 1985-86. Ao longo de 15 páginas vemos desfiar diversas conversas filosóficas entre dois personagens adultos masculinos, enquadrados em cenários de requintado design sóbrio modernista. As vinhetas nocturnas estão primorosamente desenhadas e ainda assim o impacto visual fica diminuído devido às insuficiências da impressão. A história deriva para estranhos incidentes, envolvendo raptos e desaparecimentos misteriosos, culminando com uma intervenção militar musculada.
Depois é traçado o percurso criativo de Dave McKean entre os anos de 1987 e 1991, prometendo-se uma entrevista ao autor britânico a ser publicada no próximo número.
A finalizar, uma artigo sobre a edição do álbum homónimo dos Rain Tree Crow, integrando os elementos dos extintos Japan.
No geral, Epitáfio é uma excelente publicação, pecando apenas pelas deficiências na digitalização das imagens e também na qualidade da impressão.
Epitáfio #5, Novembro de 1991, 34 págs, impresso a preto & branco, 21x29,7cm. Matosinhos.

Epitáfio #6
Por volta de 1992, a banda desenhada passava por um período depressivo em Portugal, com o término das duas revistas especializadas, com escassas editoras activas (a Meribérica com alguns bons autores e boas obras, mas com edições relativamente fracas; e a ASA, com excelentes edições, mas muito direccionada para um público conservador). Os fanzines também andavam bastante irregulares.
Neste contexto sombrio, o sexto número do Epitáfio surge como uma lufada de esperança - bem impresso, com um grafismo moderno e com um conteúdo bem sintonizado com o que era publicado na Europa e nos EUA. Para mais, no editorial refere-se uma ambição renovada - ter periodicidade trimestral e surgir com maior número de páginas.
Na capa, é apresentado um desenho de José Carlos Fernandes sob os auspícios de "The Sky's Gone Out" dos Bauhaus. Esta mesma influência surgirá nas duas pranchas publicadas com o título "This Is For" baseadas no poema / epígrafe impresso no álbum "Mask" dos Bauhaus. Não é referido, mas esse texto / poema com todas as linhas iniciadas com "This Is For When" é assinado por Brilburn Logue, pseudónimo utilizado por Alan Moore nos anos 80.
A outra banda desenhada publicada nesta edição corresponde à segunda parte de "Os Extraterrestres" da autoria de Agonia Sampaio, cuja primeira parte foi iniciada no jornal “Público”.
Há ainda cartoons da autoria de Rui Duarte e de Pedro Castro.
As páginas iniciais estão repletas de informações variadas sobre o mundo bedéfilo, com textos breves da autoria de Pedro Cleto, Nuno A. N. Correia e José Rui Fernandes.
Os mesmos autores também assinam diversas críticas e análises a novas edições nacionais e internacionais, atribuindo classificações com base em “Claps” & “Buuhs!!!”.
José Rui Fernandes escreve sobre a Lynx, uma iniciativa para acabar com a caça e morte de animais com a finalidade de extrair as suas peles, utilizadas em adornos.
O destaque especial desta edição é a publicação de uma entrevista exclusiva a Dave McKean, um dos autores mais prestigiados na época.
Na vertente musical, Nuno A. N. Correia escreve sobre “Hipocrisy Is The Greatest Luxury” dos The Disposable Heroes Of Hiphoprisy. Referências ainda para os álbuns “Uh-Ho” de David Byrne e “Heartbeat” de Ryuichi Sakamoto.
Esta sexta e derradeira edição do Epitáfio é o epítome do que pode ser um fanzine dedicado à banda desenhada, mas aberto a outras temáticas, bem apresentado e apelativo. O resto da história já surgirá sob outra designação – Quadrado - com um formato diferente, pronta para uma nova vida e várias reincarnações.
Epitáfio #6, Setembro de 1992, 36 págs, offset a preto; capa a duas cores, 21x29,7cm. Edição: Associação Neuromanso. Matosinhos.

18 novembro 2025

Ultra Violenta

Ultra Violenta #6
"Cicatriz" é o tema deste sexto Ultra Violenta. A cicatriz como vestígio de dano e de destruição, mas também de reconstrução e de cura. Participam nesta edição Miguel Correia, Kali Kali, Ogata Tetsuo, Arianna Piccoli, Anna Klos e Raquel Barrocas.
Os trabalhos publicados são composições gráficas digitais, onde os tons de cor verde fornecem uma certa homogeneidade e fundo comum.
A montagem desta edição favoreceu uma certa descontinuidade e fragmentação dos projectos apresentados, intercalando-os e confrontando diferentes linguagens e técnicas expressivas.
A cicatriz cirúrgica, a cicatriz resultante da ferida aberta, mas especialmente as cicatrizes que se vão acumulando ao longo da vida, no corpo e na alma, que são impossíveis de disfarçar, pois são marcas da nossa identidade, de força e superação.
Ultra Violenta #6, Julho de 2020, 24 págs, impresso a cores, 14,5x21cm.

Ultra Violenta #10
Ultra Violenta é um fanzine editado por Miguel Correia e conta, neste número, com a participação de Anna Mancini, Gil Pinto, Nuno Freire e Vitor Aguiar. O tema escolhido para esta edição foi a "Força" e cada um dos participantes assumiu a sua perspectiva sobre uma determinada dimensão da força: seja a força bruta, a força da mente e das ideias, a força da justiça, a força dos sonhos ou o outro lado da Força.
O estilo e os recursos gráficos utilizados são muito variados, passando pelo desenho e ilustração, colagens, fotografia, manipulação digital, etc., compondo um caleidoscópio expressivo um pouco caótico, ao qual o editor procura dar sentido e harmonização. As várias visões dos artistas participantes são conciliadas pela montagem e pela homogeneidade das cores e texturas de fundo.
O tema central adoptado para cada número procura aglutinar e dar algum sentido à intervenção dos participantes, mas acima de tudo, o que resulta é um fanzine visualmente apelativo.
Ultra Violenta #10, Novembro de 2020, 20 págs, impresso a cores, 14,5x21cm.

Ultra Violenta #11
O "Mistério" é o conceito unificador desta edição, onde o
 negro e o vermelho são as tonalidades predominantes. Participam diversos autores nacionais e internacionais, como Miguel Correia, Sara Seabra, Hekim Akward, Rosana Pereira, Tiago Margaça e Paper Surgery.
As abordagens ao tema proposto também são bastante diferenciadas - montagens gráficas, colagens, pintura e desenho. Há surpresas e sentido de humor, as imagens digitais convivem, pacatamente, com a pintura brutalista, abrindo portais improváveis para novos triângulos das bermudas.
Ultra Violenta #11, Dezembro de 2020, 24 págs, impresso a cores, 14,5x21cm.

Ultra Violenta #14
Número especial do fanzine Ultra Violenta apresentado assim: "Um retorno às origens dos fanzines, mês de Junho de 2021, número totalmente criado em 4 horas, durante o workshop de edição de fanzines leccionado por Miguel Correia no evento Fanzine Ultra Violenta – 1ª Quinzena da Cultura Visual Alternativa. O resultado final é a colaboração dos 9 participantes no workshop (Francisco Reyes, David Rocha, Marta Lucas, Marisa Espinheira, Georgia Papaioannou, Ricardo Gomes, Ivo Hooeveld, Helena Zália, Miguel Correia) e esta é uma edição especial que foi entregue a cada um deles."
Ultra Violenta #14, Junho de 2021, 20 págs, fotocópia a preto em papel colorido, 14,5x21cm.

17 novembro 2025

I´m Open but I Follow my Heart

Fanzine bastante caótico de Ana Ribeiro, escrito maioritariamente em inglês, mas com frases em português à mistura. A composição gráfica das páginas lembra por vezes uma peça musical, como se a autora estivesse a compor, mas as notas musicais teimassem em fugir da pauta. O texto desenhado manuscrito e as composições gráficas espraiam-se livremente pelas páginas e por vezes colidem, num estado de ansiedade permanente prestes a rebentar numa ebulição descontrolada.
Marcos Farrajota referiu o seguinte na altura do lançamento: "nos 10 anos da MMMNNNRRRG Ana Ribeiro lançou dois novos zines I´m Open but I Follow my Heart e Mix + Remix ou à espera do bus na lua ou como Aristóteles me lixou, quebrando a tradição do Durtykat, título de Ribeiro de sempre (2001-06). Apesar da quebra nominal, mantêm-se as mesmas características: zines de bd em A5, impresso em papeis coloridos (amarelo e castanho, respectivamente), bd's de Ribeiro com um desenho naíf, narração confusa que mistura possíveis auto-biografias com ficções sociais, "anti-design" ou design DIY (zine à mão, cola e tesoura), tudo um bocado "fora de controle" em que nunca sabemos se estamos a ler bd's curtas ou uma longa... Um escape emocional em cada página? Talvez."
I´m Open but I Follow my Heart, Junho de 2010, 36 págs, fotocópia a preto em papel amarelo; capa em papel milimétrico intervencionado, 14,9x21,5cm.

15 novembro 2025

Desterrado

Desterrado é o nome de um álbum gravado em CD-R por Ramrife com oito temas, que vem acompanhado de um fanzine composto por material visual desenvolvido por André Coelho. A música é maioritariamente instrumental, com excepção do tema "Desterrado" que conta com a voz de Mariana Lemos a recitar fragmentos da obra "Os Limites da Paisagem" de Manuel João Neto. Estes fragmentos textuais também surgem nas páginas do fanzine, a acompanhar os trabalhos de montagem e colagem de imagens fotográficas retratando diversos objetos encontrados, inseridos em ambientes cinzentos e carregados com a poeira do tempo em lenta decomposição.
Adoptando "A queda dos deuses arrasta consigo as estátuas" de Ernst Junger como conceito predicável, a decadência e a devastação surgem como consequências inexoráveis da ruina da humanidade nas suas dimensões materiais e simbólicas.
André Coelho referiu sobre este trabalho que "em contraste com os meus outros trabalhos visuais, desta vez concentrei os meus esforços na criação de micro-cenários esculturais e montagens com found objects e detritos, submetendo-os ao tempo e ao pó, enquanto os misturava com ilustração e pintura. Estas composições visuais têm como objetivo estabelecer um diálogo com a música, os escritos e os recortes textuais de Ramrife."
Desterrado, Janeiro de 2025, 52 págs, impresso a preto & branco; capa em papel craft, 14x19cm.  Tiragem: 75 exemplares. Edição: Khthon. Porto.

14 novembro 2025

Barba

Uma gaivota furiosa com barba pendurada por baixo do bico serve de capa a esta publicação dinamizada por um grupo de jovens artistas formados na Faculdade de Belas Artes do Porto. Os trabalhos publicados são bastante heterogéneos, vincando a personalidade de cada autor, embora as questões ligadas ao processo e ao meio artístico sejam transversais a diversos trabalhos.
A abrir, um desenho de Nuno Sousa num exercício de ventriloquismo, antecede um editorial cheio de lacunas, de espaços por preencher no meio das frases, sugerindo uma ideia de publicação em aberto.
Depois, um ditado numa folha do caderno diário, ao estilo da antiga escola primária, discorre sobre o texto "O que é um autor" de Michel Foucault.
A arte e os seus mecanismos de legitimação e afirmação, a política e os acontecimentos marcantes, o sistema de ensino artístico, o academismo e os seus próceres, são abordados com refinada ironia e humor cáustico em páginas de falsa publicidade, de classificados e de consultadoria artística, e com notória acutilância nos trabalhos de Nuno Sousa e Carlos Pinheiro.
Miguel Carneiro publica duas pranchas protagonizadas pelo seu personagem Monsieur Pignon. Marco Mendes contribui com dois desenhos intimistas em ambiente doméstico. Os restantes participantes são Scotch, Bruno Monteiro, Tatiana Santos, João Marçal, zE, Marta  Bernardes, Rui Lima, Iva Correia, Mónica Faria e Helena Reis.
Barba, Junho de 2005, 40 págs, impresso a preto & branco; capa em serigrafia, 14,5x21cm. Edição: Senhorio. Porto.

12 novembro 2025

Fragosela-De-Baixo-Mix Quinta XX XXXXXX 1995-96

Comentário de NovoMajor no Instagram: "Narrativa breve, mas vincada, partilhada pelo Miguel há muitos anos e cujo contexto vem revelar um pouco mais da realidade micro que o recente documentário "Paraíso" revelou em macro: coisas que aconteceram nos anos de implantação da cultura rave em Portugal.
O centro a colonizar a periferia ou uma descentralização saudável? O festival de amor mitificado por quem não viveu a época transforma-se aqui num empreendimento DIY planeado para servir a vontade em estar No Tempo Certo, na pista cultural certa.
Numa escala e ambiente diferentes das "raves" que aconteciam pelo país, esta não foi uma tentativa de organizar uma rave e sim de transportar a sua mecânica e música para uma situação conhecida de muitos: fim-de-ano com amigos."
Segue-se o texto de apresentação publicado pela Flur: "Grupo de amigos e conhecidos junta-se na zona de Viseu para celebrar mais uma passagem de ano. Detalhes exaustivos da logística e quem vai, quem se encontra, o que fazem, o que tomam, o que veem. À relativa banalidade da situação acrescenta-se uma camada de época relacionada com um estilo de vida que gravitava em torno da cultura de música de dança. 2M, assim anónimo mas real, já acumulara experiência rave e professava uma modernidade urbana, convencida, crente no centro de actividade e acção, pouco interessada na periferia e no "naturalismo". 10 anos mais tarde concebia o ambiente vídeo na melhor discoteca de Lisboa.
Tiradas secas, sarcásticas, alguns traços da idade (25 anos) a perdoar por quem já lá passou, com certeza a questionar por quem não se revê no tom da narrativa e por quem, 30 anos depois (agora), lê shaming em toda a parte. Eram os anos 90. Em Portugal. Pré-telemóveis e pré-internet generalizada. Um país rock a mudar aos poucos. A XFM a contrubuir. O Alcântara-Mar a contribuir. A Rotunda de Alcântara.
Um tempo em que, como se sabe e está documentado, em muitas discotecas só se ouvia house e techno a partir das muitas da manhã. Era assim no Day After, em Viseu, um dos cenários nesta história. Outro cenário, o principal: uma Quinta nas proximidades da cidade. Prepará-la para festa, habitá-la nesses dias.
Também os relacionamentos. O que correu mal, o que correu bem, o que foi chato e o que foi incrível. Sociologicamente, os embates entre gente com referências musicais diferentes. Um fosso, como sabe quem leva a música a sério. Entre gente com opções de vida diferentes. Outro fosso, e bem explícito. Piadas e comentários hoje em dia impensáveis.
Tudo descarregado da memória em poucos dias, após os factos. Preservou-se a escrita fluída, com inícios de frases em letra minúscula. Adaptaram-se umas aspas. Fizeram-se parágrafos para facilitar a leitura. Local específico rasurado. Os nomes, CLARO, todos transformados. Em código para proteger personalidades. De resto, em princípio, tudo verdade. E no momento apropriado, «os olhos cheios de rave», a expressão poética que ficou no grupo desde que C2 a ouviu de uma colega, quando um dia chega ao emprego praticamente de directa no regresso de uma rave no Alentejo. Embutida na ficha técnica, ligação para uma mixtape com o alinhamento das duas cassetes representadas nesta publicação.
Escrito há 30 anos, este relato esteve dormente enquanto instantâneo não tanto de uma época mas de uma postura cultural e até social do seu autor e outros elementos do grupo que se juntou para uma passagem de ano em 1995-96."
Fragosela-De-Baixo-Mix Quinta XX XXXXXX 1995-96, Julho de 2025,  20 págs, risografia a preto & branco, 14,2x20,2cm. 2.ª Tiragem: 50 exemplares. Edição: Holuzam. Lisboa.

11 novembro 2025

We Love KISMIF!

No âmbito do evento Keep It Simple; Make It Fast! (KISMIF!) realizado em Julho de 2015 no Porto, foi lançada esta publicação bilingue editada por Paula Guerra e Esgar Acelerado. O mote para a edição da KISMIF Conference 2015 foi 'Crossing Borders of Underground Music Scenes', que de certa forma, justifica os convites aos artistas participantes nas exposições realizadas na Faculdade de Letras e em outros locais da cidade do Porto.
No geral, KISMIF! é um evento inserido numa lógica de institucionalização e academização de manifestações culturais mais alternativas e subterrâneas, cuja principal protagonista em Portugal é Paula Guerra.
Os autores convidados foram Anoik, que expôs uma série de trabalhos gráficos e cartazes para festivais e concertos musicais.
João Belga, cujo imaginário artístico é muito influenciado pelo rock e pela literatura mais alternativa.
As influências dos videojogos, do Pokémon, das capas dos discos de heavy metal são notórias nos trabalhos de Rudolfo (autor da capa desta publicação). A música é uma constante na sua vida e nas bandas desenhadas que vai criando, destacando aqui os trabalhos publicados em Molly.
Esgar Acelerado é outro participante com vasta produção gráfica ligada ao universo musical, passando pela criação de editoras discográficas, capas de discos, cartazes, ilustrações e banda desenhada.
10 capas de discos icónicos foram recriadas por Júlio Dolbeth para a exposição. Os discos escolhidos foram clássicos como 'Kind of Blue' de Miles Davis, 'Heroes' de David Bowie, 'Thriller' de Michael Jackson, entre outros.
Ondina Pires apresentou os seus trabalhos gráficos, com colagens e composições pop bizarras, com a música como pano de fundo.
A dupla Sardine & Tobleroni apresentou a exposição 'We Love 77' contando com 77 pinturas representando outras tantas bandas influentes do universo punk e rock, desde as bandas precursoras até aos cultores contemporâneos.
We Love KISMIF!, Julho de 2015, 40 págs, impresso a preto & branco, 14x20cm. Edição: Universidade do Porto.

09 novembro 2025

Nemo (2.ª Série)

Nemo #1
Nemo #1 (2.ª Série), Novembro de 1989, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #2
Nemo #2 (2.ª Série), Fevereiro de 1990, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #3
A segunda série do Nemo apresenta-se com o subtítulo "O Fanzine dos que Gostam de B.D.", em tamanho A4 e periodicidade trimestral. Neste terceiro número, um dos destaques é o extenso artigo "Mickey e Gottfredson" assinado por M. Nöel Hantonio (pseudónimo de Manuel Caldas) sobre o longo período em que Floyd Gottfredson foi responsável pelo desenvolvimento das tiras do célebre rato.
A rúbrica "Miudezas" discorre sobre a rivalidade entre o norte e o sul no campo da bd, envolvendo o CPBD de Lisboa e o CNBDC do Porto. Referência também para a publicação da série "Calvin & Hobbes" em Portugal e para o livro "America's Great Comic-Strip Artists".
O outro destaque é a versão completa do artigo "A BD italiana vista por um leitor português" de João Paiva Boléo, que havia sido publicado truncado anteriormente.
A finalizar, Jorge Guerra escreve sobre "Maus" de Art Spiegelman e Manuel Caldas referencia a passagem de Jacques Martin, criador de Alix, pela Póvoa de Varzim.
Na última página, é reproduzida uma prancha intitulada "Um Dia Escorregadio" do desenhador norte-americano A. B. Frost, publicada no longínquo ano de 1883, com a curiosidade de ser 10 anos anterior à data oficial do nascimento da bd americana.
Nemo #3 (2.ª Série), Maio de 1990, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #4
Nemo #4 (2.ª Série), Agosto de 1990, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #6
Nemo #6 (2.ª Série), Fevereiro de 1991, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #8
Nemo #8 (2.ª Série), Agosto de 1991, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #10
Nemo #10 (2.ª Série), Fevereiro de 1992, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #12
Nemo #12 (2.ª Série), Agosto de 1992, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #13
Nemo #13 (2.ª Série), Dezembro de 1992, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #19
Nemo #19 (2.ª Série), Junho de 1994, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #20
Nemo #20 (2.ª Série), Novembro de 1994, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #21
Nemo #21 (2.ª Série), Março de 1996, 32 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 100 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #22
O Nemo é, indiscutivelmente, um dos melhores fanzines editados em Portugal sobre a temática da banda desenhada (e não é apenas devido à concorrência não ir a jogo - o Nemo é mesmo bom!!).
Este número, apresenta na capa "Concrete" de Paul Chadwick. São publicados textos e ensaios de praticamente toda a gente que escrevia sobre bd em Portugal, como Domingos Isabelinho, João Ramalho Santos, João Miguel Lameiras, António Dias de Deus (texto sobre a obra do argentino Horacio Altuna) e do editor Manuel Caldas.
Nota também para a publicação do texto onde Bill Watterson explica as suas razões para ter terminado com a famosa série "Calvin and Hobbes".
Nemo #22 (2.ª Série), Junho de 1996, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #23
Nemo #23 (2.ª Série), Setembro de 1996, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #24
Nemo #24 (2.ª Série), Dezembro de 1996, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #25
Nemo #25 (2.ª Série), Março de 1997, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #26
Nemo #26 (2.ª Série), Junho de 1997, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #27

Neste número, João Miguel Lameiras escreve um breve apontamento sobre os primeiros trabalhos de José Carlos Fernandes. Domingos Isabelinho discorre sobre diversos tópicos em volta da arte e da banda desenhada, retomando alguns tópicos do ciclo 1996 - Hoje, a BD, passando por "Maus" de Art Spiegelman e pela "A Arte Suprema" de Zink e Gonçalves.
O regresso em força dos heróis é o tema desenvolvido por João Ramalho Santos. O mesmo autor escreve sobre a série "As Torres de Bois-Maury" de Hermann.
Num artigo de maior fôlego, intitulado "Dois Europeus no Sertão" João Miguel Lameiras cruza as obras "Caatinga" de Hermann e "O Homem do Sertão" e "Samba com Tiro Fixo" de Hugo Pratt, versando o universo dos cangaceiros do interior do estado da Baia.
"BD Escolar" é o tema escolhido por António Dias de Deus, fazendo uma digressão sobre a utilização da ilustração e da banda desenhada no ensino em Portugal.
"Os Argumentos Económicos para a (In)existência de uma Revista de BD em Portugal" é o título de um artigo de Álvaro Silveira.
Nas "Crónicas de Saturno" Domingos Isabelinho apresenta a segunda parte de "Simplismo e Distanciação - Do "Midcult" à Autenticidade".
"O Crepúsculo do Herói" é o título de um texto de Leonardo de Sá sobre a distribuição de publicações brasileiras em Portugal, remontando ao mensário "O Herói". 
Nemo #27 (2.ª Série), Setembro de 1997, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 80 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #28
Nemo #28 (2.ª Série), Dezembro de 1997, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #29
Nemo #29 (2.ª Série), Março de 1998, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

Nemo #30

Nemo #30 (2.ª Série), Junho de 1998, 30 págs, offset a preto & branco, 21x29,7cm. Tiragem: 99 exemplares. Póvoa de Varzim.

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